domingo, 8 de novembro de 2009

Não há dinheiro, mas há sentimentos




Há tempos, Portugal foi apontado como um país exemplar no acolhimento dispensado aos imigrantes. Gostei de saber que, apesar das dificuldades por que passamos, temos tempo para repartir com os imigrantes a nossa generosidade.
O Público de hoje entrevistou quatro imigrantes. Revelaram as dificuldades que encontraram, mas um não deixou de dizer, em Portugal “não há muito dinheiro, mas há sentimentos”. Ao menos isso.

Para este domingo, com votos de boas leituras...

Num mundo pluralista,
a viagem é comum a laicos e religiosos,
interpretada de formas diferentes

"Durante muito tempo, o enjoo causado por péssimas 'vidas de santos' fez-nos perder de vista que a santidade é uma viagem de permanente transformação até encontrar o essencial da vida,  segundo as características de cada um. O Reino de Deus está dentro de nós, se nos tornarmos lugares de escuta do Espírito, no íntimo da consciência e na beleza e agonia do mundo."

Frei Bento Domingues,

In Público de hoje

sábado, 7 de novembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 156

BACALHAU EM DATAS - 46
.

Primeiro Navegante

O NAUFRÁGIO
DO PRIMEIRO NAVEGANTE

Caríssimo/a:

Já vimos algumas imagens trágicas deste naufrágio.
Contudo, Deus louvado, há sempre outra imagem da mesma realidade – agora até no futebol nos dão sempre o ângulo oposto. Ora, nem mais: vamos mudar a máquina de filmar e captemos outros cenários.
A Dra. Ana Maria Lopes, no seu blogue, mas a 2 de Agosto de 2008, sobre este mesmo tema, escrevia:

«Contava-me o meu Pai que, nesse ano, bacalhaus escalados, espalmados e salgados tal como são acamados no porão do navio, após a salga, deram à costa, a boiar, chegando a aparecer na própria ria.
Nesse ano, é que houve, pelos vistos, festival do bacalhau, a sério, sem encenações.»

Pois bem, continuemos com a mesma perspectiva e divaguemos:
Num «Postal do Porto», publicado no Timoneiro de Novembro de 1983, escrevia (há um preâmbulo que não suprimi porque está ligado ao contexto...):

1. Vamos hoje partilhar este bocadinho de prosa que vinha no Gaiato, assinada pelo Padre Moura:
«Naquele mesmo dia demos um saltinho à Gafanha da Nazaré, a uma empresa de pesca ligada ao bacalhau. Fomos lá buscar dois fardos, oferecidos.
Um dia, nos fins de Setembro, em Paço de Sousa, recebemos a visita da família que administra a empresa. Até nos foram oferecidos, para além de outros valores, dois fardos de bacalhau bem cada mês do ano!
Deus seja louvado pelo Homem que dá o que é seu! Pelos pescadores de rosto queimado, habituados a subir e a descer as ondas do mar, tão longe da sua terra! Pelo mar, sinal de vida, um movimento para o Infinito!... E pelos peixes, escondidos na profundeza das águas, que são uma maravilha para os olhos e alimento para nós. Por tudo, a nossa gratidão!»


2. Esta oferta de BACALHAU recordou-me uma outra que o mar fez aos «pobres» da zona onde vivia, deve haver para aí uns trinta e tantos anos.
Foi o caso... Afundou-se, ali à boca da Barra, um navio – O PRIMEIRO NAVEGANTE, salvo erro.
O bacalhau libertou-se dos porões e, levado pela corrente e «atraído» pelas pedras, foi refugiar-se nas rochas da Meia Laranja, nas tocas. Era meter-se lá, fugir às ondas, e vir a pingar bacalhau e a escorrer água e areia.
Aquilo foi uma fartura! Trazia-se para casa às carradas.
Chegado aí – cada casa era uma seca e cada família, uma empresa -, era lavado e limpo da areia e posto a secar. Nenhum se estragou, que, enquanto havia bacalhau fresco a secar, não mais se provou outro conduto. E afinal nenhum peixe chegou a secar nem se guardou de reserva... a não ser na «barriga».

Felizmente neste naufrágio não houve vítimas a lamentar e talvez por isso o bacalhau era tão saboroso com o pequeno (!) senão de um ou outro grão de areia fazer música nos dentes.

Manuel

A questão da homossexualidade...



Homossexualidade e casamento


As religiões, concretamente as monoteístas, condena(ra)m, nos seus textos, por vezes sob ameaça de morte, a homossexualidade.
Assim, lê-se no Levítico: "Se um homem coabitar sexualmente com um varão, cometeram ambos um acto abominável; serão os dois punidos com a morte".
Mas, segundo M. Darnault, em Le monde des religions, o texto que está na base da homofobia cristã é o relato bíblico de Sodoma e Gomorra. Dois homens, enviados de Deus, chegaram a Sodoma e Lot acolheu-os pela noite, mas a população encolerizou-se: "Ainda se não tinham deitado, quando os homens da cidade rodearam a casa e chamaram Lot: 'Onde estão os homens que entraram na tua casa esta noite? Trá-los para fora, a fim de os conhecermos." Avançaram para arrombar a porta, mas os dois homens feriram-nos de cegueira, mandaram Lot fugir com a família e "o Senhor fez cair sobre Sodoma e Gomorra uma chuva de enxofre e de fogo", que tudo destruiu. Aquele "a fim de os conhecermos" é um eufemismo para relações homossexuais e de Sodoma proveio sodomia.
É também sobre esta narrativa do "povo de Lot" que se apoia o Alcorão para reprovar esta "acção infame" e "torpe". A suna prescreve a pena de morte, a maior parte das vezes por lapidação.
O fundamento da estigmatização teológica e canónica da homossexualidade, apoiada por especialistas da teologia moral, como São Tomás de Aquino, encontra-se no desenvolvimento do tema da depravação de práticas consideradas "contra a natureza", como já São Paulo tinha escrito na Carta aos Romanos: "Foi por isso que Deus os entregou a paixões degradantes. Assim as suas mulheres trocaram as relações naturais por outras que são contra a natureza. E o mesmo acontece com os homens: deixando as relações naturais com a mulher, inflamaram-se em desejos de uns pelos outros".
O Catecismo da Igreja Católica diz: "Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a Tradição sempre declarou que 'os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados'. São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, receber aprovação. Um número não desprezível de homens e mulheres apresenta tendências homossexuais profundas. Eles não escolhem a sua condição de homossexuais; essa condição constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta".
Parece seguir-se o princípio da condenação do acto, não das pessoas. Também o Dalai Lama, em 2001, declarou que "a homossexualidade faz parte do que chamamos 'uma má conduta sexual'", rectificando depois: "Só o respeito e a atenção ao outro deveriam governar a relação do casal, hetero ou homossexual". Na Igreja anglicana, há debates acesos por causa da ordenação de bispos gays e bênçãos de casais homossexuais.
Entretanto, em 1993, a OMS retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais.
Recentemente, houve um apelo lançado por 66 países para a despenalização universal da homossexualidade a que se associou o Vaticano. Ainda bem. E não deve haver lugar para discriminação. Julgo também que não há razões para negar a comunhão a quem tem essa orientação.
O Estado deveria encontrar uma forma de união com consequências jurídicas semelhantes às dos casados. Mas, como já aqui escrevi, a questão reside em saber se há-de chamar-se-lhe casamento. O problema é mais do que religioso e as palavras não são indiferentes, pois não pode dar-se o mesmo nome ao que é diferente. Como disse o filósofo ateu Bertrand Russell, "o casamento é algo mais sério do que o prazer de duas pessoas na companhia uma da outra: é uma instituição que, através do facto de dela provirem filhos, forma parte da textura íntima da sociedade, e tem uma importância que se estende muito para além dos sentimentos pessoais do marido e da mulher". Assim, o que a sociedade tem de resolver é se considera o casamento essa instituição ou uma mera contratualização de afectos.

Anselmo Borges

Mestre Lourenço de Sesimbra fez amizades na nossa terra


Pérola de Sesimbra

Mestre Lourenço, de Sesimbra, fez amizades na nossa terra. A sua traineira, Pérola de Sesimbra, ainda a laborar, terá sido o último barco feito pelo Estaleiro Mónica.

Carta aberta a uma mulher viúva




A VIÚVA DOS DOIS CÊNTIMOS


Permite-me, mulher viúva, que te dirija uma carta aberta. Desculpa tratar-te não pelo teu nome, mas pela tua situação na sociedade. Aceita a minha saudação de paz que é sinal de bênção do Todo-poderoso, o Altíssimo.
Sou padre católico e leio com frequência os livros sagrados, que os cristãos chamam bíblia, onde aparece o teu “caso” ocorrido no Templo de Jerusalém. Terá sido numa das vezes em que lá foste, segundo o vosso costume. A tua atitude despertou a atenção de Jesus de Nazaré. Recordas-te?! Talvez não porque foi tudo tão rápido e discreto. Mas eu vou lembrar-te e dar-te a minha opinião em público para que vejas o alcance do teu gesto simples e humilde.
À tua frente, vão homens ricos que lançam avultadas quantias nas caixas do Tesouro do Templo. Fazem coisas que dão nas vistas. O quê, não sei. Talvez o modo de vestir, de rezar ou de estar na fila e tentar alcançar o primeiro lugar.
Jesus de Nazaré, que tinha vindo à cidade para a celebração da Páscoa, observa-os atentamente. Ele não se entendia com eles, sobretudo com os que ensinavam o povo em nome do Altíssimo. Preferia a verdade à mentira, a transparência à confusão, a sobriedade à opulência e a humildade à vaidade. Este modo de proceder causa-lhes má vontade e desejos de vingança e morte. Mas não desiste e leva a sua avante.
Sentado e atento, Jesus olha também para ti. Vê que tiras da bolsa as únicas moedas que possuías e.com naturalidade as colocas na mesma caixa. Valiam pouco, bem sabes, mas eram o sinal da grande riqueza do teu coração. Depois, acompanha-te com o olhar enquanto te vais retirando e perdendo na multidão. Deixa-te partir sem dizer palavra. Sabes o que pensava nesses momentos?!
Não é difícil de descobrir pois chama o grupo que o seguia e fala-lhes de modo surpreendente. Põe frente a frente a tua dádiva e a dos homens ricos. A tua sai a ganhar. Não pelo valor da quantia, mas pela finura da qualidade. Deste o que tinhas para viver e não do que te sobrava. Ficaste sem qualquer garantia e segurança, apesar da tua situação social, enquanto a eles muito lhes restava. Posso afirmar-te que os discípulos ficam admirados pela novidade que este contraste põe a claro de forma interpelante.
Parece que Jesus de Nazaré tinha acesso aos segredos do coração e também aos teus sentimentos mais profundos, sabia em quem depositavas a confiança, conhecia as tuas convicções mais seguras e em quem descansava a tua vida. E embora não faça um elogio rasgado da tua atitude, aproveita sabiamente a oportunidade para marcar a diferença e definir critérios de vida: o valor das pequenas coisas, a grandeza da generosidade, a força das convicções, a eficácia do agir discreto, a entrega incondicional. Diferença também no apreço pela qualidade dos sentimentos, pela subordinação dos bens às pessoas, pela partilha assente na equidade e não só no supérfluo.
Sabes, mulher viúva, o teu silêncio é mais eloquente do que muitos discursos e a tua atitude mais expressiva e convincente do que tantas formas de proceder consideradas exemplares. A finura do teu gesto espelha a delicadeza de quem te observa e o alcance da mensagem que anuncia.
Aceita a minha gratidão em nome de quantos te admiram e procuram estar atentos às pessoas de hoje como, no teu tempo, esteve Jesus de Nazaré, o enviado do Deus altíssimo.

Georgino Rocha

Que sina a nossa…



Quando acordo de manhã, ligado o rádio, frequentemente sou confrontado com notícias tristes, que se sucedem umas às outras. A corrupção domina o panorama da vida portuguesa, com políticos, e não só, envolvidos ou indiciados como tal.
Eu sei que ninguém pode ser condenado ou absolvido na praça pública, pecado grave que muitas vezes cometemos. Mas também sei que se está a generalizar a ideia de que vivemos num país de corruptos. Há gente séria, muito séria, mas ninguém duvida da existência de oportunistas, que nem vergonha têm de exibir sinais exteriores de riqueza, quando o que ganham, nos cargos que ocupam, não é explicação para o que mostram descaradamente.
A contemplar tudo isto, temos uma Justiça incapaz de averiguar o que se passa e de condenar os corruptos que, por artes que aprenderam não se sabe onde nem com quem, vivem à tripa-forra, quando tantos trabalhadores e empregadores honestos mal têm o mínimo para sobreviver.
A classe política, que tinha obrigação de procurar resolver esta situação, bem prega que o vai fazer, mas a realidade é a que se vê a olho nu, não havendo, realmente, progressos na luta contra este cancro dos nossos tempos.
É claro que não alinho com os mais pessimistas, que chegam ao ponto de defender a suspensão da democracia, para se vencer a podridão que vai minando os projectos de uma sociedade mais justa e mais fraterna. Acredito que a democracia, com os meios de que dispõe e lhe foram outorgados pelo povo, pode muito bem ultrapassar mais esta dificuldade. Assim o queira…

FM

Para começar um sábado tristonho



Para começar um sábado tristonho, que foi o que senti esta manhã, nada melhor do que recordar, graças a uma foto, um passeio que fiz, há muito, ao Castelo de Montemor-o-Velho. O dia estava quente e lindo e ali, com toda a tranquilidade, pude usufruir do ar puro, dando um abraço ao passado do nosso povo que, com unhas e dentes, defendeu e lutou pela sua liberdade.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

História nas ruas...


Sempre gostei de ver a história de uma povoação plasmada nas ruas e praças. Quem passa, se não hoje pelo menos amanhã, terá oportunidade de ficar a saber curiosidades. Na Figueira da Foz, perto da Câmara Municipal, encontrei esta placa, com dizeres importantes. Sabe-se que os figueirenses têm tido, ao longo dos tempos, um gosto especial pelo teatro. E esta placa, de forma simples, lembra-nos isso mesmo.

O FIO DO TEMPO: Marchar para erguer a Paz



A PAZ É MESMO O ÚNICO CAMINHO


1. A própria expressão «Marcha Mundial pela Paz e Não-Violência» dá a volta às palavras no justo sentido. Ao passarmos o filme da história, a designação de «Marcha» é bem mais atribuída ao marchar para a guerra do que ao anúncio da Paz. É mesmo importante inverter esse caminho e avançar de forma pensada e amadurecida pela paz, o único caminho com futuro para todos. De Outubro 2009 a Janeiro 2010, está decretada a reflexão mundial pela paz. Talvez seja efectivamente na era global a primeira marcha unida pela paz. Sinal dos tempos, sinal de esperança, mas nobre missão e compromisso em que ninguém pode ficar de fora, especialmente os corações que persistem nas durezas da divisão e dos muros.

2. À medida que cresce a consciência universal e a convergência impressionante e “ao segundo” no encontro de culturas, etnias, religiões e filosofias de vida, aumenta a responsabilidade de orientar todas as visões de sociedade numa linha de sentido de «bem comum», este um pilar fundante do mundo melhor que se procura, repleto da generosidade que vence todo o mal. Também à medida que as intolerâncias de várias origens vão continuando a dar os seus ecos maléficos a proclamação da «não-violência» é o mínimo olímpico essencial rumo à paz. Mas não chega a paz podre… É por isso que em imensas localidades de norte a sul e do oriente ao ocidente cresce a adesão ao projecto da Marcha Mundial da unidade na riqueza da diversidade. http://www.theworldmarch.org/index.php?lang=por

3. Se a paz é mesmo o único caminho para haver futuro, então no mundo actual nenhuma área educativa, da formal à informal, poderá ficar de fora… Mas a verdade é que a violência percorre o mundo da comunicação e as consideradas melhores películas dos cinemas – factor cultural – trazem consigo armas a ferro e fogo. Do global ao local, em espírito glocal. Também em Aveiro a marcha chegou e quer mover as gentes na reflexão andante para ser VIDA na prática.
 

Para Recordar: Músicos Gafanhões

É  bom recordar. Tanto gosto eu como muitos dos meus leitores. É sempre saudável reviver rostos e projectos muito válidos. veja aqui.

Para começar o dia, uma boa ideia




“O aquecimento global é o maior desafio que a humanidade alguma vez enfrentou. As gerações vindouras exigem dos actuais líderes mundiais determinação nas políticas ambientais, para que todo o cidadão possa contribuir, a curto prazo, para um planeta sustentável e mais equilibrado.”

João Lopes
General Manager da Siemens IT Solutions and Services

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Viver e actuar numa sociedade não se pode fazer pela negativa




Um mundo sempre igual, cada dia mais diferente


Não é fácil para muita gente, mesmo da Igreja, perceber que o mundo é sempre igual, porque povoado de pessoas com a sua dignidade, direitos, deveres, aspirações e problemas. Mas é, também, um mundo cada dia diferente, dadas as mudanças culturais que se estão verificando que influem nos comportamentos e no rumo de muitas vidas, com as aquisições sociais e tecnológicas que se vão operando e generalizando, com a globalização que a todos nos aproxima mais, sem que por isso nos torne mais amigos e fraternos. Mais possibilidades e mais desencontros; mais gestos de ajuda e mais egoísmos; mais conhecimentos e mais arrogância; mais ricos e mais pobres… Mundo complexo e cheio de contradições, mundo rico de oportunidades e cheio de gente sem vez. Mundo que conquistou a sua autonomia e o seu espaço de legítima liberdade, mas que multiplica os oprimidos, os excluídos e os escravos.
A Igreja existe e coexiste neste mundo com uma missão própria em favor de todos, reconhecida por uns e não por outros que se declaram alheios a qualquer expressão religiosa. Existir e coexistir é expressão da força que a mantém acordada e activa, e tanto a poderá levar a um apreço crescente, como a perseguições claras ou encobertas. Foi sempre assim e, mesmo que a história não se repita, as pessoas marcam, em cada tempo, rumos semelhantes ou mesmo iguais aos de tempos idos, sempre que o seu mundo valores se assemelha.
A característica mais generalizada e observável é que a sociedade se secularizou, as suas opções e projectos dei-xaram de ser influenciados por forças e razões morais, o económico sobrepôs-se ao humano, o político reduziu-se a interesses de grupos, as divisões agravaram-se e o diálogo de cooperação tornou-se cada dia mais difícil.
A secularização, entendida como conquista da autonomia própria das realidades profanas e modo de as conduzir, é uma conquista legítima da cultura moderna. É também uma afirmação normal de que homem é, de pleno direito, cidadão do mundo e protagonista da sua história. Pela sua participação responsável e activa na sociedade, está ligada a si e dependente das suas acções e omissões, a história dos seus contemporâneos e, de algum modo, dos seus vindouros, dado que o presente subsiste em grande parte no passado, e não lhe são indiferentes aos projectos do futuro.
Viver e actuar numa sociedade à qual se deve respeitar a autonomia, não se pode fazer pela negativa, refugiando, por exemplo, a expressão religiosa na área do privado, fazendo juízos críticos sobre o declinar do religioso, aceitar de modo passivo a dessacralização da sociedade e o que se exprime como simplesmente humano, considerado o normal de uma sociedade moderna.
A Igreja tem de reinventar a sua presença, sem complexos de culpa no processo, nem juízos de um triunfalismo que aguarda a derrocada para fazer a festa da vitória. O projecto a Igreja é o serviço à sociedade e às pessoas, como fermento, como sal e como luz, traduzido em propostas sérias e viáveis, de livre aceitação e generoso seguimento. A história já lhe ensinou que o seu êxito não se mede por critérios profanos, que a luz não se pode colocar debaixo do alqueire, que o fermento só dá força à massa em contacto com ela, e que o sal que não cai sobre os alimentos, os deixará sempre sem sabor.
A Igreja, fiel ao Evangelho mais que qualquer força social, tem capacidade para se regenerar, para abrir e andar por caminhos novos.
Será que só os seus detractores sabem que essa é a sua força?

António Marcelino

O FIO DO TEMPO: A insustentável tranquilidade



1. Nos nossos dias, só o que tem futuro é que merece a caracterização de sustentável. Esta é uma ideia simples e na actualidade claramente assumida em múltiplos quadrantes da vida colectiva. Não ter sustentabilidade é não conseguir garantir um amanhã viável e promissor em ordem ao progresso. Neste sentido, a «tranquilidade» pode prejudicar se o rumo que se tem não garante a continuidade necessária. Aliar o humanismo e a serenidade com a garantia sempre urgente de futuro será, na verdade, a chave de solução mais eficiente. Lançando o olhar sobre tantas e tantas instâncias e colectividades, do mundo social ao associativo ou mesmo cultural, deparamo-nos com determinadas opções, ou ausência delas, que podem condicionar a verdade do melhor desenvolvimento para todos.

2. A coragem de mudar, no pressuposto da preocupação de implementar melhorias nos processos e nas finalidades, na procura da verdade e da justiça, é sempre caminho de profetas. Em tantas realidades são necessários impulsos positivos, estimulantes e efectivamente renovadores, não fundamentalmente na cosmética da imagem mas na essência das coisas. Também não mudar por mudar, como quem procura em tudo ler caminhos de reacção ao passado, diminuindo, por isso, a séria convicção. Quantas vezes se sabe que em imensas colectividades a abundância da tranquilidade pode significar aquela “paz podre” que poderá ter o nome de indiferença. No mundo actual uma renovada consciência existe de que cada um pode fazer a diferença, de que cada um tem um papel imprescindível na construção do bem comum. Mas, quem governa o barco, quem lidera o grupo, terá de ter essa capacidade de síntese estimulante.

3. Esta reflexão vem a talho de foice de um dia destes, ao ouvir na rádio os comentários a mais um empate do Sporting, da «tranquilidade» de Paulo Bento e do presidente leonino. De facto, também o excesso de tranquilidade «forever» pode perturbar os cordelinhos da sustentabilidade…


Alexandre Cruz

Para começar o dia, um texto de Almada Negreiros




O pensamento humano e a humanidade não são uma e a mesma coisa. O pensamento humano leva sempre uma incomensurável dianteira à marcha geral da humanidade. O que o pensamento humano quer imediatamente são exemplos pessoais. A humanidade é apenas um elemento, como a terra, a água, o ar e o fogo.
Há de facto diferença entre aqueles que têm capacidade para suportar sozinhos o peso da atmosfera e aqueles que têm capacidade para suportar sozinhos o peso da atmosfera e aqueles que apenas ombro a ombro resistiriam ao quotidiano. O pensamento humano sabe que tem o poder de restituir a alma aos apavorados.

Almada Negreiros
In NOME DE GUERRA

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Desta vez os ovos não estão todos no mesmo saco



A arte de governar


Estamos num recomeço: novo governo, novo programa, novos autarcas, novos responsáveis locais da grande cidade à pequena aldeia. Há já quem adiante que nada há de novo. Críticos e analistas afiam a pena e a palavra para descobrir apenas o mesmo.

Mas desta vez os ovos não estão todos no mesmo cesto. Sem maioria absoluta os poderes estão repartidos, e as minorias ganham outra dimensão e responsabilidade. Com novos jogos de maiorias e minorias podemos, por um lado, ser conduzidos aos indesejáveis tempos da ameaça constante da queda do governo – e com isso da permanente cilada para recomeçar sempre no dia seguinte. Mas por outro lado assumimos a responsabilidade mais repartida. De modo a estimular a procura de soluções tanto pelos que governam como pelos que estão na oposição. O País constrói-se com todos. Possivelmente mais com os pequenos empreendimentos multiplicados, do que com dependências de poucos-grandes-grupos com a decisão final em todos os momentos em que se joga o pão de cada dia.
O pão de cada dia é um conjunto de bens essenciais a que todos têm direito. Variam necessariamente com a evolução dos tempos e as novas aquisições que o desenvolvimento humano, social e tecnológico permite. E há urgência de pão para a mesa dos desempregados, de muitos idosos, dos desencantados da vida.
Mas esse pão também se define pelos valores que alimentam uma comunidade. Na cultura, na arte, nas dimensões espirituais que dão sentido à vida, na procura dum futuro aberto aos novos sinais que a ciência, as humanidades, a tecnologia, a espiritualidade oferecem.
Um programa de governo desde o nível nacional ao mais longínquo recanto dum país precisa ter em conta este todo para não reduzir o futuro a um grupo de robots sem alma nem afecto. Nenhum governo tem capacidade e autoridade para distorcer este direito fundamental dum povo. Nenhuma oposição tem direito a jogos rasteiros de perturbação política ou social deixando pelo caminho projectos de crianças e jovens, e direitos sagrados de adultos e idosos que com o seu trabalho constroem ou construíram o que nós somos.
O terreno que se abre com “novos governos” é uma responsabilidade repartida por todos. Onde ninguém tem o direito de ficar de fora ou de expulsar quem quer que seja.

António Rego

José Estêvão


1862 - "Pouco antes  da uma hora da madrugada deste dia [4 de Novembro] - e não no dia anterior, como indicam alguns - faleceu em Lisboa, numa casa da Rua de "O Século", o grande orador parlamentar e egrégio aveirense José Estêvão Coelho de Magalhães, que ultimamente também vinha exercendo o cargo de grão-mestre da Confederação Maçónica Portuguesa."

Fonte: Calendário Histórico de Aveiro

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO: É urgente mudar os roteiros



Rua Direita, em Aveiro

As curvas  da rua direita

1. Há ruas direitas em muitas terras e várias cidades. Umas melhor conservadas que outras, também mediante aqueles que as percorrem. Embora o nome seja «rua direita», a verdade é que as curvas acompanham esse caminho, o que exige atenção redobrada, também tendo em conta de onde se vem e para onde se vai. Se fôssemos a escrever a história de cada Rua Direita e recuássemos meio século que fosse, ficaríamos surpreendidos em como essa rua foi um autêntico eixo estruturante, um caminho que ora unia localidades ora estabelecia ligação directa e eficaz dentro da própria localidade. Mas, como é claro, com o desenvolvimento, tudo foi crescendo e nem sempre se conseguiu preservar o “direito” dessas ruas, o que obriga a conduções bem mais atentas.

2. Como em tudo quanto é conduzir toda a atenção é pouca. Quanto mais para a condução da vida por caminhos repletos de curvas. Falemos da Rua Direita que une a Estação da Luz a Aveiro. Não só em noite das bruxas, como no passado fim-de-semana, em que acidentes mortais pelas altas horas da madrugada deixam todos em estado de choque. Não se pense que existe algo contra a liberdade de entretenimento; pelo contrário, tudo quanto é diversão saudável é bem-vinda! Mas a pergunta sobre a saudabilidade das altas noitadas de discoteca, sobre as horas que abrem ou fecham, sobre os seus volumes de som, de álcool, de fumos, de… Tudo enrolado à mistura não há biologia humana que resista, já dizemos, à centésima estação de tanta luz que encandeia depois quem quer uma Rua Direita que o leve a casa.


3. É urgente mudar os roteiros: em vez de se pensar só nas consequências, pensar antes nas causas de tudo ou até nas possíveis faltas de causa que levem à cegueira na alta noite de condução. O problema é preocupante, não só pelos que ao longo dessa Rua Direita volta e meia são assustados com os estrondos da noite mas principalmente pelo acontecimento que vitimiza uns e entristece outros. É possível mudar este cenário?!

Alexandre Cruz

Mais um livro de Georgino Rocha: “Intervenção da Igreja na sociedade portuguesa contemporânea”




UM MUNDO EM TRÂNSITO
E UMA IGREJA EM RENOVAÇÃO


Saiu há pouco mais um livro de Georgino Rocha, padre da Diocese de Aveiro e docente universitário,  sob o título “Intervenção da Igreja na sociedade portuguesa contemporânea”, com prefácio de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto. Trata-se de um trabalho que vem na sequência de muitos outros, em que o autor, estudioso profundo de temas eclesiais com incidência, óbvia, na sociedade, e vice-versa, nos oferece “contributos para a emergência da democracia”, com a “leitura de um percurso com luzes e sombras”.

D. Manuel Clemente sublinha que nesta obra “encontramos referências múltiplas e concatenadas que não podem ser esquecidas, para nos compreendermos como cidadãos e crentes, quase a cumprir-se a primeira década do terceiro milénio”.

Diz que todos “ganharemos então com a leitura destas páginas. E com a atenção redobrada a alguns percursos pessoais, como aqueles que o autor refere, de padres e leigos”.

Na Apresentação, que deve ser lida numa perspectiva de se ficar a saber o que se vai encontrar na leitura, serena e reflexiva, Georgino Rocha lembra que “A acção da Igreja portuguesa, designadamente a do seu Episcopado, tem sido analisada e caracterizada, a partir de ângulos muito diversos e, por vezes, contrastantes”, especialmente desde o liberalismo, atingindo “fases históricas cruciais na instauração da República, na vigência do Estado Novo, na implantação e consolidação do regime democrático”.

Afirma  que, com a entrada no III Milénio, nasce uma nova etapa, marcada pela “mudança de época” e pelo “papel da sociedade mediática e da globalização económica, deixando em aberto novas fronteiras e desafios à ética social na vida pública”.

Os textos que integram este trabalho, de teor académico mas dirigidos a todos os que sentem necessidade de conhecer as causas e as consequências das intervenções da Igreja em cada tempo da história dos homens, no nosso País e não só, apresentam-se sistematizados e mostram como é complexa a “marcha para a democracia”, no dizer do autor.

Com data de 26 de Abril, dia da canonização de D. Nuno Álvares Pereira, Georgino Rocha oferece, logo a seguir à Apresentação, um excerto da Conferência Episcopal Portuguesa sobre esse acontecimento que colocou o nosso Santo Condestável nos altares, onde se sublinha que D. Nuno “optou corajosamente por ser parte da solução e, numa entrega sem limites, enfrentou com esperança os enormes desafios sociais e políticos da Nação”.

Os dez capítulos desta obra abordam, com riqueza de pormenores e evocação de factos, inúmeros temas de diversas épocas, desde a Concordata de 1848 à Rerum Novarum e desta ao advento da República. Depois, da 1.ª República à revolta de 1926.

O Estado Novo, sua implantação, consolidação e desmantelamento; da Revolução do 25 de Abril ao fim do século XX, com a democracia em construção; e a sociedade portuguesa no início do milénio, bem como o magistério social da Igreja, entre 2000 e 2004, são assuntos que não podem nem devem ser ignorados pelos que estão empenhados na construção de um mundo melhor.

O catolicismo social português e os católicos na transição democrática (1973-1982); a pastoral social e a função da Cáritas, numa sociedade em mudança, convidam-nos a uma reflexão, sempre importante. Conclui o seu trabalho com Gaudium et Spes: o paradigma conciliar, numa perspectiva de “um mundo em trânsito” e de “uma Igreja em renovação”.

Fernando Martins

Para começar o dia: Uma marca do passado em Aveiro


Chaminé de cerâmica

Quando caminho pela cidade de Aveiro, é frequente encontrar marcas simbólicas do passado, que me ajudam a reviver momentos da azáfama fabril no meio urbano. Impensável nos tempos de hoje, em que as zonas industriais proliferam, e bem, por todo o País. Neste caso, a chaminé de uma cerâmica, que deu trabalho e arte a muita gente, está no seu sítio próprio, para ali fazer memória.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Crónica de um Professor: “O trapo faz a modelo”





Ser Modelo!


- É modelo?
A frase soou nebulosa, dentre uma chusma de alunos, tal qual a voz orquestrada por um coro de jornalistas que assediam uma pop star.
Foi no percurso para a sala de aula, quando já se preparava para entrar, que foi surpreendida por aquela abordagem insólita.
Olhou em redor, procurando vislumbrar o alvo de tão inesperada quanto estranha pergunta.
Num espaço onde se cruzam e entrecruzam as mais diversas indumentárias, algumas um tanto bizarras, haveria de encontrar o protagonista.
O coro de vozes intensificou-se e, de repente, entendeu que a pergunta lhe era dirigida.
Seria a curiosidade infantil, característica de uma faixa etária cuja espontaneidade e sentido crítico estão à flor da pele, ou haveria, na verdade algo naquelas cabecinhas ingénuas, que lhes faria associar à teacher, a imagem de uma qualquer modelo de passerelle?
Explorando o campo semântico da palavra, evocava algo semelhante a “um modelo de virtudes”, que não lhe assentaria, certamente,  como uma luva, pois a profissão docente conduz mais à categoria de mártires... do que de santos! E... modelo modelo, só o Continente na sua forma apelativa de marketing!
Que estaria a perpassar naquelas cabecitas tontas, tão observadoras e perspicazes, para atirarem aquela pergunta: - É modelo?
Após uns segundos de reflexão, repara que havia colocado na lapela uma flor retirada dos tons outonais que revestem a natureza.
Sensível às mutações cromáticas que se operam em seu redor, e transpondo para a toilette do dia, esse colorido, conjecturou que talvez fosse esse o motivo da observação.
Mas daquela gente de palmo e meio ainda a dar os primeiros passos na formação da personalidade e numa crescente adultez, saiu a observação estética sobre o vestuário da sua professora.
Durante a aula, aqueles olhitos não paravam de observar e de quando em vez, inoportunamente (!?), saltava o comentário: - A teacher, hoje, vem muito bonita!
E... pensamos nós, adultos, que as adoráveis criancinhas são indiferentes a muita coisa e nem reparam naquilo que é acessório, como o traje e a apresentação dos adultos.
Chamando a brasa à sua sardinha, como sempre num compromisso pedagógico, aproveita, ali, a circunstância, para fazer uma breve explicação do novo léxico.
- Pensei que modelos eram só as teenagers!
Essa idade lhes concede, a beleza, a elegância e a graciosidade necessárias para essa profissão e os requisitos indispensáveis para vingarem na mesma.
Constatou também como a aspiração de vir a ser modelo povoa a mente sonhadora e a fantasia de tantas adolescentes e jovens.
Quando se olham ao espelho e o narcisismo lhes acalenta a auto-estima, vão alimentando o sonho de vir a ser gente nesse mundo de competição. Mal sabem, pobrezitas, o mundo cão em que se vão meter e as decepções e frustrações que ele lhes acarreta.
No seu espírito de pessoa madura, pensa a teacher: - Afinal, se como o povo diz, “O hábito não faz o monge”, também é verdade que “O trapo faz a modelo”, na simplicidade e apreciação desta gente miúda!

M.ª Donzília Almeida
30.10.09

Uma curiosidade para começar o dia: xilofone de búzios



Na Casa-Museu Afonso Lopes Vieira, em S. Pedro de Moel, vi um xilofone de búzios, cujo som não pude apreciar. 
Vale pela originalidade, como demonstração de que a imaginação do homem não tem limites. Ontem como hoje e sempre. E o escritor e homem culto era, sem dúvida, um apaixonado pela arte-

domingo, 1 de novembro de 2009

Tempo Glorioso para a Bíblia

Na crónica deste domingo no Público, frei Bento Domingues regressa ao tema da Bíblia para se referir também a uma presença portuguesa na Escola Bíblica e Arqueológica de Jerusalém: a de frei Francolino Gonçalves.

Leia excertos do texto aqui.

Boa Reflexão do Dalai Lama



NOTA: Penso que já publiquei esta reflexão do Dalai Lama cheia de verdade. Pelo sim pelo não, aqui fica ela, por sugestão do Ângelo Ribau.

Dia de Todos os Santos



Um Botão de Rosa para cada um


Hoje, no respeito pela tradição e pelas minhas devoções, fui ao cemitério da Gafanha da Nazaré, debaixo de uma chuva miudinha, para visitar os meus santos. Nas suas campas deixei um botão de rosa, como sinal de bonitas recordações que deles guardo para a vida inteira. E como crente, num gesto da fé que todos eles me ensinaram a viver, dirigi uma prece ao Senhor Misericordioso, para que os guarde, no seu seio de amor maternal, até à minha chegada, que só Deus sabe quando será.

Fernando Martins