domingo, 31 de janeiro de 2010


Uma revolução democrática ou a vitória de extremistas?

«A queda da monarquia em Portugal, ocorrida há exactamente um século, não foi uma surpresa. O descontentamento com a evolução do regime que saíra da revolução liberal agudizara-se nas últimas décadas do século XIX - em particular após o Ultimato inglês de 1890 -, e a revolta falhada de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, fora um aviso de que a monarquia podia ser derrubada por um golpe militar.»

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Arte para começar este domingo


Van Gogh

Diocese de Aveiro: Colecta das missas para o Haiti

Só agora soube que neste  fim-de-semana, por proposta da Cáritas aceite pelo nosso Bispo, a recolha das ofertas nas celebrações destina-se ao Haiti. Quem não puder ou não tiver o hábito e a devoção para participar nas missas, pode, se assim o desejar, contribuir para a reconstrução do Haiti e para dar de comer aos milhares de desalojados e órfãos. Sejamos generosos.

FM

sábado, 30 de janeiro de 2010

HAITI: E tudo correu de forma excelente

Gerir a ajuda - Envolver quem precisa

“Não sabes a alegria que me deu todo este processo” – confidencia o Padre Serrano, coordenador do serviço social dos Jesuítas para o Haiti, em carta recente aos amigos. 
O processo referido diz respeito à descarga e distribuição da ajuda alimentar à população, após as peripécias do transporte de São Domingos para as localidades de destino.
“Uma alegria ligada a uma nova compreensão da situação, a uma referência muito concreta às pessoas, a uma nova forma de gerir a ajuda… Há que integrar as pessoas no próprio processo” – esclarece, emocionado e satisfeito. 
E para ilustrar a sua convicção, afirma: “Quando se amontoaram à nossa porta, recordo a voz e o rosto de Soucet, uma mulher vigorosa que exigia alimento, com irritação ostensiva. Recordo o meu temor perante tanta gente. Agora vejo caras amigas, pessoas com as quais se comparte e trabalha pela mesma causa… Agora temos segurança e protecção mais forte do que aquela que podiam brindar-nos as forças militares, temos o acompanhamento de quem pretendemos ajudar” – atesta, concluindo o seu precioso e comovente relato.
Gerir a ajuda, envolvendo os próprios necessitados, ouvindo-os e responsabilizando-os, reconhecendo as suas capacidades e valorizando-as, confiando no acerto da informação que chega e da que é transmitida – eis a proposta desafiante.
“Enquanto nos reuníamos para organizar a distribuição, um grande número de pessoas começou a dar murros na porta, pedindo alimento” – adianta aquele responsável que, de forma pedagógica, continua, “ suspendemos a reunião e pensámos no pior. Foi preciso chamar a polícia, mas a multidão não dispersou.”
E o Padre Serrano anota que, para se irem embora, foi preciso fazer a promessa de eu ir falar com eles, logo que pudesse, e de, no dia seguinte, lhes darmos da ajuda recebida.
“Nessa tarde tivemos uma excelente assembleia de moradores. Reconheceram ser necessário tempo para organizar a distribuição e nós verificámos que também eles deviam beneficiar dos bens chegados. Dei-lhes conta do nosso medo e dos sentimentos de insegurança.”
Garantiram que naquela zona seriam os garantes da ordem e da paz, organizaram-se para receber a ajuda e comprometeram-se a descarregar os camiões. 
“E tudo correu de forma excelente” – remata o coordenador do apostolado social dos Jesuítas para a zona das Antilhas.
Este modo de proceder está em profunda consonância com o pensamento social cristão que sempre descobre nas desgraças uma oportunidade de superação e de promoção dos atingidos. 
O “plano de reconstrução” do Haiti deve basear-se nos direitos humanos e ter em conta o princípio da subsidiariedade, valorizando as capacidades das pessoas e das suas organizações. Esta advertência é feita pelo representante da Santa Sé nas Nações Unidas, Dom Silvano Tomasi, que destaca como fundamentais os direitos: à vida, à nutrição, à agua, ao desenvolvimento, a uma esperança de vida adequada, a um trabalho digno. E acrescenta: “Estes direitos já estavam em grande medida ausentes”. 
A tragédia veio mostrar a sua falta, realçar a urgência da sua realização e indicar o caminho da superação: todos somos responsáveis uns pelos outros; cada um deve ser tido em conta nas suas aptidões e contribuir com o que pode; tem de haver quem coordene e impulsione as iniciativas adequadas às capacidades das pessoas e às exigências das situações. 

Pe. Georgino Rocha

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 169

PELO QUINTAL ALÉM – 6



A LARANJEIRA



A
Manuel de Mira e Maria Merendeira
Samuel e Silvandira
António da Rita



Caríssima/o:


a. É sempre com sensação repousante que me passeio por baixo das laranjeiras. O meu amigo Weber dizia que era preciso meter o nariz entre as folhas das plantas e respirar assim o oxigénio... Mas não é só, também o aroma das flores... e o zumbido das abelhas. E as memórias que saem destes troncos...

e. Não se plantavam laranjeiras nos nossos quintais. Escrevia o Padre Rezende, em 1940, que se ensaiavam os primeiros pomares...
Ali na nossa zona, foi o ti Samuel quem mais porfiou e conseguiu melhor êxito. Até me lembro que num Cortejo dos Reis levou uma laranjeira que arrancou e envasou! Bons tempos!
(Ficam para altura mais apropriada as aventuras dos gaios e dos melros que lhe rondavam o quintal e o espiavam para o golpe certeiro...)

Nesta altura de frio, surgia no ar o pregão:
- Laranjas de Miiiira! Laranjas de Miiiira!
Não me perguntem pelas laranjas, se eram doces ou azedas...
Eram palavras e imagens de encantamento: laranjas nunca vistas; Mira terra lá muito longe; e burro e carroça como nos apresentavam os livros!

Hoje podemos ver algumas laranjeiras pelos quintais e ouvir os queixumes de quem esperava pelos frutos; porém os químicos sorrateiros e a atrevida mosca mediterrânica adiantaram-se e apoderaram-se das promessas do ano...

i. Da laranjeira aproveitam-se as laranjas, o tronco e ramos, as folhas e as flores.

Era como fada boa quando oferecia um pau, guardado como tesouro e apresentado ao ti Manuel da Rita, o mago que do torno extraía o Pião!
As nossas monas a seu lado, triste figura! E a rijeza? As nossas, de pinho; aquilo era como se de azeite, moles que até as picadas alargavam; era cada lasca!...

E das flores? Deixem que nos falem as noivas!...

Crónica e um Professor: Passeio



Afinal ainda há pessoas altruístas
Por Maria Donzília Almeida

Foi numa daquelas tardes ensolaradas de domingo. A chuva e o vento em aliança cúmplice e de uma fidelidade mútua, a toda a prova, haviam dado umas curtas tréguas aos habitantes desta zona costeira.
Nem sequer podemos praguejar contra o mau tempo, pois ele está no seu tempo e no espaço que lhe compete. Seria mais preocupante se estivesse um calor de rachar, em pelo Janeiro. Tudo se quer no seu tempo, como ... pelo Advento, como lá diz o povo.
Este ar de graça do astro-rei originou um êxodo da cidade de Aveiro que veio desaguar a estas praias onde o farol ainda tem honras de atracção turística e é olhado com alguma pequenez!
Com esta enxurrada de gente à procura do seu raio de sol, era ver as esplanadas dos cafés a abarrotar de gente, a saborear uma bebida ou simplesmente a desfrutar do afago dos raios solares. Outras pessoas calcorreavam os passeios pedonais, vulgo passadiços, fazendo aquele recomendado exercício físico com a família por perto. Num ou noutro local, a tomar a bebida ou a brincar com os rebentos, sobre a relva, era ver os casais novos a partilharem momentos de bem-estar.
Com o ambiente agradável que um dia de sol proporciona, sentia-se na atmosfera evolar-se o aroma adocicado e quente da bolacha americana e das tripas. Neste dia, senti um desejo enorme, já que há muito tempo não saboreava o petisco.

Prémio Inês de Castro para Tolentino Mendonça

Poetas no interior da cultura


José Tolentino Mendonça é o vencedor do Prémio Literário  Fundação Inês de Castro 2009. No terceiro ano em que é atribuído, o prémio distingue a obra “O viajante sem sono”, publicado no final do ano 2009 pela Assírio & Alvim, de José Tolentino Mendonça.
Em declarações à Agência Ecclesia, o premiado afirma que “é sobretudo uma grande responsabilidade por aquilo que é o ofício da própria poesia”. Tolentino Mendonça sublinhou também o “investimento que isso representa em termos da vocação pessoal para a arte e para a criação”. O poeta e biblista recordou, ainda, “o contributo específico que os poetas são chamados a dar no interior da nossa cultura”.
A entrega do Prémio Literário  Fundação Inês de Castro 2009 acontecerá a 6 de Fevereiro, pelas 17 horas, na Quinta das Lágrimas em Coimbra, numa sessão em que estará presente a Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas.

Guimarães: Como Eduardo Lourenço reencontrou Portugal

Paço Ducal

«Visitar Guimarães fez com que Eduardo Lourenço tomasse "um banho de imersão pátrio". "Aqui vive-se um tempo muito particular, talvez o mais português dos tempos", sublinhou o ensaísta depois de percorrer as salas e claustros do Paço dos Duques de Bragança. E fez questão de conhecer o interior da Capela de S. Miguel, onde Afonso Henriques terá sido baptizado, e de ver de perto o castelo da cidade. O pensador esteve em Guimarães pela primeira vez aos 86 anos, no fim-de-semana passado, a convite da fundação que gere a Capital da Cultura de 2012. O motivo foi uma conferência sobre a Europa no âmbito da Capital Europeia da Cultura. O programa da Guimarães 2012 abriu assim com a presença de uma figura marcante do país, sinal da aposta na discussão acerca da construção europeia que vai ser central ao evento. Com uma vitalidade invejável, Eduardo Lourenço percorreu a pé as ruas do centro histórico, desconfortável com a atenção que lhe dedicaram os fotógrafos. Por ali diz ter "reencontrado Portugal". "Guimarães não me era familiar", confessou. Mas parece tê-lo conquistado, elogiando a "consistência arquitectónica" e o facto de estar perante uma "cidade jovem e cheia de futuro".»

No PÚBLICO de hoje

Mahatma Gandhi faleceu há 62 anos

Gandhi
Faz hoje anos que faleceu, em 1948, com 79 anos, Mahatma Gandhi. Ficou na história do seu país, a Índia, e do mundo como pacifista.
A sua vida é conhecida por todos os que assumem a defesa da verdade e a luta contra a injustiça de forma não-violenta. Exemplo raramente seguido pelo mundo civilizado.
Importa reflectir sobre a lição que nos legou Gandhi para uma sociedade mais pacífica.

HÁ QUATRO REVOLUÇÕES EM MARCHA


A humanidade sob ameaça

          de Anselmo Borges


Não há dúvida de que estamos a viver uma transformação prodigiosa do mundo, uma revolução talvez só parecida com a do "tempo-eixo", como lhe chamou Karl Jaspers.
Há quatro revoluções em marcha. Uma revolução económica, com a mundialização, que significa a concretização da ideia de McLuhan de que formamos uma "pequena aldeia" e a chegada ao palco da História de grandes países emergentes. Outra é a revolução cibernética, que, como disse Jean-Claude Guillebaud, faz nascer um quase-planeta, um "sexto continente". A revolução genética transforma a nossa relação com a vida, a procriação e pode fazer bifurcar a Humanidade: a actual continuaria ao lado de outra a criar. Também está aí a urgência da revolução ecológica, que, se a Humanidade quiser ter futuro, obriga a uma nova relação com a natureza. Sem esquecer o perigo atómico e do terroris- mo global.
Perante todas estas revoluções e face aos problemas que agora são globais, como a droga ou o trabalho, impõe-se, em primeiro lugar, pensar numa governança mundial. Depois, não sei de que modo o futuro será, como diz J.-Cl. Guillebaud, uma "modernidade mestiça", mas, para evitar o "choque das civilizações", impõe-se o diálogo intercultural e inter-religioso. Há anos que o famoso teólogo Hans Küng se não cansa de repetir que, sem paz entre as religiões, não haverá paz entre as nações, e essa paz supõe o conhecimento e o diálogo entre as religiões.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Navio-Museu Santo André



O Navio-Museu Santo André foi um campeão da pesca do bacalhau. Descansa agora como museu vivo da saga dos bacalhaus, junto ao Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré. Esta visita virtual não dispensa uma visita real.

Eduardo Lourenço: Cada Papa traz “a sua novidade e liberdade”

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Eduardo Lourenço

O diálogo de Bento XVI com Paulo VI
na «Caritas in Veritate»


Na encíclica «Caritas in Veritate», o ensaísta Eduardo Lourenço nota uma “espécie de diálogo entre Bento XVI e Paulo VI”. Organizada pela Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) realizou-se, ontem (28 de Janeiro), uma conferência sobre a última encíclica de Bento XVI.
Aos jornalistas, o ensaísta realçou o “estilo claro e transparente, mas semeado de citações rituais que são ao mesmo tempo intemporais e que podem aplicar-se ao presente”. Cada Papa traz “a sua novidade e liberdade” – disse.
Na sua partilha com os participantes reunidos num dos auditórios do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), em Lisboa, Eduardo Lourenço começou por referir que “poucos actos de Bento XVI, o Papa teólogo, suave e elegante, que ocupa a cadeira de Pedro, me impressionaram e tocaram tanto – pelo seu carácter original e profético – como os do momento inaugural do seu pontificado” – frisou.
A hermenêutica de Bento XVI “inspira-se em Martin Heidegger” – disse Eduardo Lourenço. O actual Papa é contemporâneo, “discípulo ou até condiscípulo de vários teólogos que dedicaram – como Henri de Lubac – ao humanismo ateu memoráveis estudos e não meditou menos sobre essa nietzschiana «morte de Deus»”.
Bento XVI é sensível – “e naturalmente preocupado – com «o espectáculo» da indiferença, alheamento ou desertificação religiosa” verificadas no Ocidente. Na sua conferência sobre a encíclica «Caritas in Veritate», o professor universitário afirma que “espanta que uma época tão ensombrada como a nossa – embora sem o carácter trágico do último século -, Bento XVI aborda todas as questões numa tónica de serenidade intemporal”.

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Antiguidades na Figueira da Foz



Ontem visitei na Figueira da Foz uma loja de antiguidades. Não tanto para comprar, que a minha bolsa não daria para aquilo de que gosto, mas sobretudo para apreciar. Não sei explicar o porquê destes meus gostos, mas que sinto um certo prazer, sinto. Móveis, louça, livros, quadros, prata e ouro, arte sacra, postais antigos de personalidades, bustos. De tudo um pouco, ou muito, ali pude apreciar e... desejar. Quem sabe se um dia qualquer, mesmo longínquo, não poderei dar-me ao luxo de comprar qualquer peça, artística, daquelas de encher o olho!

Para a história do Mercado da Gafanha da Nazaré

Comecei hoje a registar aqui algumas notas avulsas para a história do Mercado da Gafanha da Nazaré. Quem possuir elementos interessantes, pode colaborar. Agradeço.

Ontem, o Papa recordou o labor de S. Tomás de Aquino

S. Tomás de Aquino

Bento XVI pede às Academias Pontifícias
que ajudem a Igreja
a dialogar com a cultura contemporânea

(...)
«No encontro, que ocorreu no dia em que se evoca a memória de S. Tomás de Aquino, o Papa assinalou que o frade dominicano representa um modelo inspirador para a acção e para o diálogo com as culturas.
Bento XVI recordou o labor de S. Tomás no diálogo com o pensamento árabe e judaico, bem como na conservação da tradição filosófica grega, “produzindo uma extraordinária síntese teológica, harmonizando plenamente a razão e a fé”.
O Papa instou as Academias a converterem-se “mais do que nunca em instituições vivas e vitais”, que respondam às exigências da sociedade e da cultura e às necessidades da Igreja, a fim de promover “um autêntico humanismo cristão”.»

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Já temos frio, vento e chuva para três anos


A árvore ainda adormecida continua corajosa, apesar de tudo, e não teme o sol, que tarda em aparecer. E também não teme o vento frequente na Figueira da Foz. Espera paciente que o Parque das Abadias retome a vida verdejante e fresca que não deve tardar. Assim o inverno corra para outras paragens e nos deixe em paz. Já temos frio, vento e chuva para, seguramente, uns três anos.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

“Portugueses sobrevivem apesar de Portugal

Circo, feira de vaidades
ou o caos que se aproxima?

Em entrevista breve, por motivo do Prémio Pessoa, o bispo do Porto disse que “Os portugueses sobrevivem apesar de Portugal”. Sempre num contexto sócio-económico, diz ainda que “Portugal é um país crítico”. E acrescenta: “Portugal, como estudo de caso, é uma coisa apaixonante, porque é um país que não tinha nenhuma razão para subsistir e subsiste” (Expresso, caderno “Actual” 18-12-2009).
Não vi reacção, positiva ou negativa, a estas palavras de opinião livre de uma pessoa culta e atenta, pessoa que, neste momento, não falta, na comunicação social, quem a traga, frequentemente, à ribalta.
Guardei o jornal e recordei o que fora dito, para poder, com o dedo na mesma tecla, opinar também sobre o palco político que se nos abre e convida, sobremodo, a reflectir outras facetas deste “estudo de caso” e deste “país crítico”, dado que se vão gerando e disseminando preocupações em catadupa.
O panorama partidário é preocupante, como está à vista: os interesses pessoais sobrepõem-se aos problemas comuns e urgentes; na casa desarrumada, à espera de quem aí ponha ordem, surgem novos arruaceiros; as muitas contradições, que ninguém quer assumir, multiplicam-se escandalosamente; o prestígio pessoal e o desdém antecipam e perturbam, sem razões de estado, acontecimentos de cariz público, sem que se atenda às consequências; desfazem-se referências necessárias em troca de palavras vãs, que já ninguém respeita; os debates políticos vão se tornando uma náusea e só favorecem o narcisismo de alguns intervenientes, deliciados por se ouvirem a si próprios; aos problemas vitais responde-se com floreados, em vez de dar razões convincentes e de tomar decisões que levem a soluções esperadas.

O holocausto é o lado mais negro da alma europeia».



Auschwitz, a dor da memória

1. Celebra-se 65 anos do momento da abertura libertadora das portas do holocausto. A 27 de Janeiro de 1945 o mundo acordou para a confirmação do mais horrendo atentado contra a natureza humana. Quem visita Auschwitz – um milhão de visitantes por ano – faz silêncio e medita na condição humana. Nestes dias, aquelas imagens a preto-e-branco que parecem remontar a séculos atrás, fazem-nos sentir que não foi assim tão longe no tempo nem no espaço. 65 anos foi “ontem”, e foi “aqui perto”, que o inqualificável crime contra a humanidade foi meticulosamente planeado; a médio prazo num nacionalismo de um povo, a curto prazo numa “solução final” aplicada silenciosamente para quem “o trabalho liberta” (esta a frase de acolhimento à entrada do campo).

Um poema de Orlando Figueiredo



a cegueira aproxima-se
como uma águia branca

os olhos
lembro-me dos teus
e da casa velha
e nomes
antigos
feitos de ruínas
e sal

e da festa na casa velha
mergulhada
na tinta
das letras

e do fumo na casa velha

os olhos
lembro-me dos teus
e do sorriso
das gaivotas
quando passeávamos
de mãos dadas

e do gato cego
que me lambia as mãos
com a doçura
de quem sofre
e não sabe


orlando jorge figueiredo