A apresentar mensagens correspondentes à consulta Tita ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta Tita ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Os meus contos

A TITA


Estar no quintal, em dias de sol ou de chuva, é um dos prazeres que cultivo, como quem cultiva uma flor para desabrochar na Primavera. Olhar as árvores na hibernação, ver as plantas que nascem sem que alguém as tenha semeado, cheirar o verde ora viçoso ora mortiço da vegetação espontânea, experimentar o prazer de deitar a semente à terra e de ver as novidades, mais tarde, ferirem a crosta areenta e estrumada, tudo isto me encanta. 
Numa dessas tardes em que a contemplação me deixava voar ao sabor da maré que os ventos envolviam, a Tita surgiu apressada, como quem deseja chegar o mais depressa possível à meta que o seu instinto alimenta desde que nasceu. Passa por mim ostentando uma alegria inusitada e corre, corre, sem aparente explicação. Depois cheira tudo, em busca não sei de quê. Dou comigo a pensar que isso já nasceu com ela. Chama o companheiro Tótti, grita mesmo por ele, em jeito de quem quer alguém com quem possa partilhar a alegria de uma liberdade conquistada. Tótti dá-lhe o gosto e corre também, mas a Tita, logo depois, volta ao seu prazer de procurar. 

sexta-feira, 27 de abril de 2018

A morte da Tita deixou-nos tristes


A nossa vida está cheia de memórias, agradáveis e desagradáveis, que jamais esqueceremos. As primeiras dão-nos felicidade e as segundas procuramos ignorá-las.  Montes e vales, riachos e rios, as ondas do mar, ora revoltas ora bonançosas, florestas e planícies, monumentos e simples pedras que ornamentam serranias, animais e pessoas fazem parte das nossas recordações, incrustando no nosso espírito a sensibilidade que partilhamos. Hoje, evoco apenas uma cadela, a nossa Tita, que nos deixou minada pela doença e pelo peso da idade. Tudo lhe foi dado pela família, sob a batuta da Lita, que promoveu há anos a sua libertação de um cativeiro onde passou fome, sede e a solidão do abandono. 
A Tita foi durante uns 15 anos a nossa companhia, numa doação marcada, porventura, pelo instinto da gratidão. Obediente com capacidade para nos entender, brincalhona, meiga e amante da natureza,  logo perdia a cabeça quando algum pássaro saltitava de árvore em árvore. A um qualquer ralhete, acomodava-se. Sozinha, porém, no respeito pela força canina caçadora, a sua alegria manifestava-se em exibir a caça, que entregava ao pessoal da casa. 
Com a idade, as doenças foram-se impondo e os medicamentos, com os cuidados meticulosos da Lita, não faltaram. Mas o fim da vida, aproximando-se a passos largos, não perdoou, e hoje a morte roubou-nos a Tita para sempre. A sua fidelidade e alegria de viver ficaram connosco. 

Fernando Martins 

Ler a história da Tita aqui 

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

O Totti deixou-nos

O Totti

A Lita com o Totti e a Tita

O Totti, um cão que viveu connosco cerca de 16 anos, deixou-nos no passado 13 de agosto. Foram 16 anos cheios de histórias que ficarão para toda a nossa vida. Histórias de dedicação, alegria e  fidelidade a toda a prova, que um dia saíram reforçadas com uma prenda que lhe demos — a nossa Tita — sua companheira de todas as horas. Mas há tempos, a Tita deixou-nos também, ficando toda a família muito triste. O Totti não fugiu à regra e sentiu, decerto mais do que todos nós, a perda da sua amiga de sempre. O Totti andava triste, olhar distante e frequentemente perscrutador, numa tentativa de ver chegar a sua amiga de qualquer canto da casa, do jardim ou do quintal.
A sua tristeza foi-se acentuando, de parceria com as doenças próprias da idade: Menos visão, surdez em crescendo, coluna vertebral a tolher-lhe os movimentos, coração a dar sinais de cansaço, tiroide a provocar-lhe incómodos, tosse constante. Medicação para tudo, cuidados especiais nunca prodigalizados pela Lita. Teimosia em tomar remédios, que distinguia mesmo quando muito disfarçados durante as refeições. Gritava por não conseguir levantar-se, sem forças nas patas traseiras. E no dia 13 de agosto, à tardinha, foi o tempo de nos deixar. Morreu serenamente. As corridas velozes, o ladrar a quem passava, o brincar com quem chegava, o atirar-se às galinhas e outras aves que detestava, o lançar-se furioso contra gatos que invadissem os seus domínios e o rosnar quando lhe tocavam nos ouvidos, tudo acabou.
Rezam as histórias e as lendas que os cães são os maiores amigos do homem. Terão sido os primeiros animais a serem domesticados pelo ser humano. E há provas extraordinárias da sua dedicação pelos donos ou pelos que deles cuidavam, mas ainda da estima de homens e mulheres pelos canídeos, fossem eles de que raças fossem.
O Totti tinha por hábito fixar os horários da chegada a casa dos que se tinham ausentado para o trabalho ou para passeios ou compras. E à hora que a sua curta memória ou instinto determinavam,  lá ia ele para o portão esperar quem havia de chegar. Se era a Lita, seria o portão por onde entraria o carro. Se eram familiares, o portão seria outro. Assim durante muitos anos. E quando o esperado abria o portão, dava uns gritinhos de alegria e uns saltitos de felicidade, como que a anunciar: Já chegou! Depois esperava as carícias que nunca ninguém lhe negou.
A vida é assim. Não é por acaso que um velho ditado proclama à saciedade: “Quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cães.” E eu concordo.
Acompanho com muito carinho e amor todos os que gostaram da Tita e do Totti, em especial a Lita, que os tratou como gente.

Fernando Martins

domingo, 4 de outubro de 2009

Dia Mundial do Animal

Tita

Totti
Animais nossos amigos


Cá em casa há animais tratados como gente. A Tita e o Totti (canídeos) e a Guti e a Biju (felinos). A Tita e o Totti usufruem de um quintal amplo e de algumas divisões da casa. São animais asseados, tratados a rigor, vigiados pelo veterinário, alimentados com rações seleccionadas e com amigos que brincam com eles. Costumo dizer que só lhes falta falar. Entendem o que dizemos e interpretam bem os nossos sentimentos. Estão alegres quando estamos alegres e tristes quando estamos tristes. Conhecem-nos pelo nome, percebem quando acordamos, chamam-nos quando precisam da nossa atenção, envolvem-nos, como se cordas fossem, para nos levarem para o quintal. Aí, dão sempre umas corridas, ladram a qualquer ave que se cruze com eles, gritam quando pressentem um ratito. Mas se regressamos a casa, logo deixam tudo para nos acompanharem.

Dormem a sesta como qualquer ser humano, agitam-se com qualquer petisco e procuram o aconchego da família quando troveja. Não gostam de foguetes nem de ciclistas que passem pela rua. Se os deixássemos, era perseguição certa. Nunca percebi porquê.  Qualquer animal estranho desperta neles uma curiosidade muito grande. Há dias, num quintal vizinho, apareceu uma cabra. Ficaram admirados. A primeira reacção foi ladrar; depois, tempo sem fim a contemplá-la.

As felinas são diferentes. Mãe e filha dormem sem conta nem medida. Nos seus aposentos, sótão e outras salas, onde não mora ninguém, vivem a sua solidão e a sua independência. Comem e dormem regaladas, sob a paciência de quem sabe.  De quando em vez descem tranquilas e vão espreitar o ambiente pela janela. Ali ficam absortas nos seus pensamentos misteriosos. Depois descem ao quintal, mas cedo regressam, decerto com saudades da pacatez que as anima. Não incomodam ninguém e também não gostam que as incomodem a elas.

Dentro de casa são elas quem manda. O Totti e a Tita têm-lhes muito respeitinho. Nem conseguem cruzar-se com elas. Mas no quintal, ai delas se não fogem desabridamente.

É bom sentir a amizade dos animais. É uma amizade leal e franca. Não é verdade que há gente que diz, com propriedade, que, “quanto mais conheço os homens, mais gosto dos animais”? Eu também, em alguns casos, claro!

FM

terça-feira, 16 de maio de 2017

Com os nossos cães...

Lita, Tóti e Tita num relvado da Gafanha da Nazaré

Permitam-me que partilhe hoje a foto da Lita, em passeio com os nossos cães, o Tóti e a Tita, com mais de 14 anos de vida connosco. O Tóti e a Tita são realmente dois animais adoráveis e inseparáveis. A doença de um é doença do outro. E quando um se ausenta, para ir, por exemplo, ao veterinário, é certo e sabido que ficam mesmo inquietos. Depois, quando se juntam, saltam de contentes. 
Partilho esta reflexão para fugir ao marasmo de histerias coletivas que enchem alguns noticiários televisivos com horários e programas repletos de nada, uns, e de coisa nenhuma, outros,  quando uma síntese bem feito e bem ilustrada seria o suficiente. para nos esclarecer. Das rádios, porém, não me queixo.
Voltando aos nossos cães, ensinados a respeitar e a seguir direitos e obrigações, apetece-me dizer que são mais fiéis que muitos humanos. Não é por acaso que o velho ditado — "Quanto mais conheço os homens mais gosto dos cães" —, criado nem sei há quantos anos, continua atual.

sábado, 26 de agosto de 2023

Dia do Cão


É bom que haja dias para celebrarmos tudo e mais alguma coisa. Hoje é o Dia do Cão, razão suficiente para eu evocar cães que viveram connosco como se da família fossem. O Toti e a Tita marcaram as nossas vidas para sempre. Hoje lembramo-los de maneira especial, mas no dia a dia vêm sempre à nossa memória pela lealdade com que lidavam connosco. Um cão e uma cadela, o Toti e a Tita vieram para a nossa casa quando eram pequeninos. Aqui cresceram e aprenderam como se vivia em família. E todos  se deliciava com as suas brincadeiras.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O Totti e a Tita

Animais fiéis 




Permitam-me que vos apresente, hoje e aqui, os nossos fiéis amigos, o Totti (a minha Lita faz questão de escrever com dois tês para não haver confusões, segundo creio) e a Tita, que vivem connosco há uns 14 anos bem medidos. Com esta ideia de falar de um cão e de uma cadela pretendo tão-só sublinhar a sua fidelidade que ultrapassa, em alguns casos, o que seria normal apenas entre seres humanos. Realmente, momento a momento, percebemos o nível de fidelidade destes animais, que  se estende aos demais familiares.
Quando filhos e netos chegam a nossa casa, percebemos bem a alegria que manifestam de tantas formas, com "gritinhos" estridentes, corridas e saltinhos, procurando o afago de quem vem, ao jeito de desafios para umas brincadeiras. 
As idades, já avançadas para as suas vidas, não deixam de nos avisar que, mais ano menos ano, nos vão deixar. E, talvez por isso, sinto a necessidade de partilhar com os meus leitores estas confidências. Afinal, tal como há pessoas que fazem parte das nossas vivências, também há animais que nos envolvem carinhosamente no dia a dia, ficando alegres com a nossa alegria e tristes com a nossa tristeza.

Posted using BlogPress from my iPad

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Em memória da Tita



Cá por casa houve sempre animais domésticos, concretamente,  desde que os filhos foram nascendo e crescendo. E ainda hoje, não faltam por aqui animais vadios, sobretudo gatos, atraídos pela simpatia da Lita, que trata deles como se fossem domésticos. Alguns, porém, por mais que ela os acarinhe, mantêm o seu ADN intacto. Mas ela não desiste...
Hoje, dia de mexer e remexer nos meus arquivos, encontrei esta colagem feita em homenagem à nossa Tita, a cadela que mais saudades nos deixou com a sua partida para o céu das nossas memórias. Sim, ela nunca passaria pelo purgatório! 

F. M. 

Nota: Flores do nosso jardim.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Dia Mundial do Cão

A Lita com o Totti e a Tita

Celebra-se hoje o Dia Mundial do Cão, em homenagem ao animal de estimação mais fiel ao ser humano. Diz-se que terá sido o primeiro animal a ser domesticado pelo Homem. Não faltam provas da sua lealdade e do prazer que sente em estar junto dos humanos. E quando é abandonado ou se perde, não descansa enquanto não descobre o caminho de regresso à casa onde se sentiu mais feliz. Há imensas provas da sua lealdade a quem lhe abriu as portas e dele tratou.
Pela nossa casa, passaram e viveram diversos caninos, mas os dois últimos, o Totti e a Tita, foram os que mais nos amaram. Escrevo a palavra amaram porque não encontro outra que traduza a sua dedicação e lealdade a todos os membras da família.
Foi a Lita quem os educou desde que entraram na nossa casa. E com a morte natural deles, não encontrámos coragem para os substituir. Não há um ditado que diz "Quanto mais conheço os homens mais gosto dos cães"?

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Os cães também morrem...

Os cães também morrem e alguns deixam saudades. Morreu o Cocas, deixando triste a família que o acolheu. Cristina, Fernando, Filipa e Ricardo recordaram hoje as brincadeiras do Cocas durante uns 13 anos. Também o conhecemos de perto, e com a sua morte evocámos a alegria que ele sentia quando visitava os nossos Totti e Tita. 
Correrias pelo quintal fora, espantados com algum passarito que ousasse aproximar-se. Correr por correr como se em competição andassem. E mais um mimo deste e daquele, uma ordem e um aviso que sabiam perceber e respeitar. E a Lita sempre atenta e oportuna com os seus conselhos e recomendações que todos ouviam e aceitavam. Recomendações que vinham do saber de experiência feito.
Os animais domésticos são assim. Tal como todos os seres vivos, deixam-nos na hora normal da sua raça. Tal como nós, os humanos. Andam bem e de repente surgem os incómodos de saúde. E a morte não perdoa. Depois, fica a lembrança de histórias agradáveis. Tenho para mim que os animais felizes fazem felizes quem deles cuida. 

F.M. 

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

terça-feira, 5 de abril de 2016

Morreu a nossa gatinha Gutti

Uma gata independente e solitária

A Biju deitada e a Gutti em pé
Hoje de manhã não fui abrir a janela do salão nem a porta que dá acesso ao sótão onde viviam as nossas gatinhas. A Biju morreu há precisamente um mês e hoje foi a vez da sua filha Gutti. Ambas de cancro, mal tão odioso que nem as pessoas o querem pronunciar, substituindo-o por “doença que não perdoa”.
A Gutti era uma gatinha filha de pai siamês, extremamente independente e solitária. Tal como todos os gatos, mas de forma mais acentuada. Não era gata de andar por aí, nem de correr a casa toda. Tinha o seu espaço, apenas dando alguma importância à dona, a Lita, que havia acolhido as duas há uns 15 anos, tratando-as como "princesas",  no dizer justo de um dos meus filhos. Foi durante muito tempo saudável, mas a idade, como nas pessoas, não perdoa. Foi operada, cuidadosamente tratada, alimentada com parcimónia, escovada frequentemente e sobretudo acarinhada. 
Na hora da escova, deitava-se tranquilamente numa mesa, no sótão, ao jeito de quem recebe massagens, mostrando o gosto que sentia com as escovadelas. Era meiga quando lhe apetecia e todas as manhãs, quando sentia a porta aberta, descia, senhora do seu nariz, atenta mas sem medo do Totti e da Tita, o cão e a cadela que têm sensivelmente a mesma idade. Postava-se à janela, previamente aberta, deliciando-se com o ar fresco e o sol a aquecê-la. Assim toda a sua vida. Olhava a paisagem e de vez em quando enchia-se de coragem, dava um salto para a figueira e outro para a cobertura do alpendre. E ali ficava indiferente ao mundo agitado dos homens.
Em pequena era um pouco ladina. E um dia, sem se saber como, saiu de casa e perdeu-se. A Lita espalhou um edital, com endereço e número de telefone, por cafés, lojas e esquinas, apelando à descoberta da gatinha. E seguimos para a Figueira da Foz como estava combinado. Dias depois, alguém telefona a informar que tinha encontrado provavelmente a Gutti. O meu filho Pedro foi confirmar se era a nossa gatinha. E era. Pegou nela, agradeceu à senhora e comunicou-nos que a Gutti já estava em casa a recompor-se da aventura. Talvez por isso, nunca mais saiu. E a Lita, nesse mesmo dia, não resistiu e veio visitá-la à Gafanha. Hoje ficou debaixo de uma laranjeira ao lado de outros animais que morreram de velhice na nossa casa. 

F.M.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Começou com os cães

A Tita, a nossa cadela de estimação e amiga de todas as horas, já tem chip, há anos.
A partir de hoje [4 de Julho] os novos cães portugueses passam a ter obrigatoriamente implantado um micro processador que os identifica. Os cães passam a ter bilhete de identidade escrito no corpo, e um número único, como se fosse um código de barras. Nada impede que o que se está a fazer aos cães se faça aos humanos e estou convencido que será apenas uma questão de tempo. No século XX muitos humanos estiveram já marcados, como o gado, nos campos de concentração.
ler mais no Abrupto

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O nosso Menino Jesus



O nosso Menino Jesus já está preparado para nos receber. Ele e sua mãe, Virgem Maria, e seu pai adotivo José. A minha Lita organizou a chegada do Menino, que vai ficar numa sala por onde passa toda a gente. Lareira acesa para aquecer o ambiente e sem grandes ornamentos, porque o mais importante é o espírito de ternura que nos deve animar nesta quadra e sempre.
O Menino Jesus está vestido de modo a não sentir o frio, com roupinhas de lã concebidas e feitas pela Lita. Na sala vai ter, por companhia permanente, para além de sua mãe e de seu pai, que o foi como um pai normal, o Toti e a Tita,
o cão e a cadela que nesta altura dormem como justos, mas não o burro e a vaquinha, pois estes não são os animais das nossas preferências, embora a tradição os tenha imposto através dos séculos.
Quando olhei para o Menino bem agasalhado, fixando-o olhos nos olhos, até parece que percebi dele uma recriminação, como que a lembrar-me que, afinal, há à nossa volta tantos meninos com fome, frio e sede de justiça a paz. E concordei. E prometi-lhe que a família, toda a família, vai ter em conta a sua proposta, que é muito simples: O presépio, no fundo, é para nos levar a olhar para os que mais precisam do nosso carinho, da nossa solidariedade e do nosso amor.
Bom Natal para todos, na alegria de Jesus renascido no coração de homens e mulheres de boa vontade.



- Posted using BlogPress from my iPad

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Bela recordação que o Google me ofereceu

 

O Google tem a gentileza de me oferecer prendas como esta. Diz ele que são as melhores do mês. Esta, porém, tem um sabor especial: apresenta a nossa Tita, falecida há anos, como uma flor. Fica bem na abertura da semana.

domingo, 10 de junho de 2018

Notas do meu Diário: A chuva na Primavera



Antes da aurora, a Lita disse-me que choveu toda a noite. Acreditei. Não ouvi nada porque sou meio surdo, um bem para dormir descansado. Um mal porque tenho de usar próteses auditivas. Aberta a janela, pouco depois, confirma-se a triste Primavera que nos coube na roda da vida. Como diz um conhecido cronista, nunca vi uma Primavera assim, mas decerto já passámos por outras semelhantes. Confiadamente, esperamos que o Verão corresponda ao que desejamos. Muito sol, quentinho quanto baste, mas não tão forte que possa estimular os incêndios. 
Por casa, joelhos quentes por manta que afugenta o frio, salamandra apagada porque a lenha se foi com o fumo pela chaminé, a leitura e a escrita são o meu refúgio. Sentado, com o portátil sobre os joelhos, dou uma volta ao imaginário em busca de futuros destinos. Mar à vista, mas a serra como experiência para novos olhares. 
Por perto, o Totti, o velho cão já centenário e agora muito dorminhoco, mal que se tem intensificado desde que a sua companheira, a Tita, deixou este mundo. De vez em quando, levanta a cabeça para saber quem está e volta a passar-se para o mar da tranquilidade que o sono oferece. 
“A vida no Campo”, de Joel Neto, é um livro tranquilizante. Um diário que se lê com muito gosto sem cansar. Joel Neto, que foi jornalista em Lisboa (ainda é cronista no DN), deixou tudo para voltar às suas origens: Ilha Terceira, lugar dos Dois Caminhos, freguesia da Terra Chã. Vive com a mulher e dois cães, em casa com jardim e horta. Na contracapa lê-se: «Rodeado de uma paisagem estonteante, das memórias da infância e de uma panóplia de vizinhos de modos simples e vocação filosófica, descobriu que, afinal, a vida pode mesmo ser mais serena, mais barata e mais livre. E, se calhar, mais inteligente.» 

Fernando Martins 

Nota: Joel Neto é autor de ARQUIPÉLAGO e MERIDIANO 28, duas obras que aguardam vez de leitura. 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

O NOSSO MENINO JESUS

O nosso MENINO JESUS está na família há muitos anos. Desde há meio século, aparece sempre, de forma mais visível no início do Advento, para a todos ajudar a chegar com mais autenticidade ao Natal. Em nossa casa, fica no salão mais movimentado, simplesmente na companhia de Sua Mamã, Maria Santíssima, e de Seu Papá adoptivo, o venturoso S. José. Sem vaquinha nem burrinho, sem pastores nem ovelhinhas, sem castelos nem riachos e sem outras fantasias que possam obscurecer a Sua presença inefável entre nós.
O nosso MENINO JESUS ali está como oferta a quem entra no salão e a quem se debruça sobre a Sua humildade e sobre o mistério do Seu nascimento. Sobre a Sua mensagem, que é o anúncio de um Deus próximo, humanado, que veio prometer um Reino de liberdade, de justiça, de amor, de verdade, de fraternidade e de paz. Deitado em caminha fofa, não passa frio. Mãos carinhosas tricotaram há anos roupinha quente, de lã, onde não falta uma capinha com capucho para maior agasalho. Tal como Sua Santíssima Mamã teria feito se ao tempo fosse moda. 
De fora, a desafiar o Inverno que às vezes se faz sentir, apenas o Seu rosto sereno e uns olhinhos muito vivos. Os bracinhos, abertos, como que oferecem um abraço de ternura a quem entra. Ou pedem um pouco de colo que O alivie da posição em que fica dia e noite. De quando em vez, há uma alma boa que O levanta, O aconchega, O afaga e O beija com carinho e amor. E até chama a atenção dos mais distraídos para a presença do MENINO, que não está entre nós só por estar. Estou mesmo convencido de que o nosso MENINO JESUS está atento ao calor humano com que a família, que há décadas O acolheu, O mimoseia, de maneira especial no Advento. 
Tenho mesmo a certeza de que Ele tem, ano após ano, segredos com que distingue toda a gente de casa e até os amigos da família. Talvez por isso, muitos não resistem a parar junto d´Ele, como quem O escuta com atenção. Estão a ouvi-l’O, certamente, como se ouve alguém da nossa intimidade com muito para contar ou para dizer. Que o nosso MENINO JESUS, pelo que tenho visto, gosta imenso de nos ouvir e de ler o que nos vai na alma. 
No salão, onde o nosso MENINO JESUS está, há vida, que Ele decerto aprecia e compreende. Gente que fala e escuta, gente que ri e discute, gente que conversa sobre coisas sérias e a brincar, gente que partilha sentimentos e emoções, gente que acredita que as comunidades podem ser melhores se todos quiserem e souberem contribuir para isso. 
No Seu íntimo, deve sentir-se feliz por estar connosco, no convívio constante com pessoas de idades diversas, de mentalidades diferentes, com sonhos bem guardados e às vezes comungados, com pessoas que não se deitam sem Lhe dirigirem um simples gesto de ternura e que, de manhã, ao levantar, O vão saudar e acariciar, com um “olá amigo!”, que o é de todas as horas. Há dias, o salão estava barulhento e nada convidativo ao descanso e à meditação.
Propositadamente, desliguei a televisão, para poder pensar e para contemplar o MENINO. E também na esperança de que Ele dormitasse, que os meninos precisam de dormir bastante. O Tóti e a Tita, o cão e a cadela que formam um par feliz, que nem alguns humanos conseguem imitar, estranharam o meu comportamento e procuraram os seus ninhos, onde se acomodaram. A Biju e a Gúti, as gatas, mãe e filha, a primeira mais arisca e fugidia e a segunda mais serena e misteriosa, fixaram-me espantadas, como que questionando-se sobre o porquê da minha atitude. Depois, a Biju quedou-se no parapeito da janela e a Gúti, a tal de ar e olhar misteriosos, aproximou-se, mansamente, do MENINO e ali ficou embevecida, talvez a contemplá-l’O. 
Na gaiola, Quitinho, o canário, deixou os trinados habituais e olhou, inquieto, para tanta calma. Senti, então, quanto o silêncio é importante na vida, para tudo e para todos. Desligados do barulho ensurdecedor que nos rodeia, saberemos encontrar-nos a nós próprios, para depois nos encontrarmos com os outros. E com Deus. 
Pé ante pé, aproximei-me do nosso MENINO JESUS, acariciei-O, e como que notei fixo em mim o Seu olhar, todo ele transbordante de infantil candura e de felicidade contagiante. Mais ainda: pressenti que Ele queria segredar-me um qualquer recado para eu ter em conta. Um recado contra o pessimismo que me domina frequentemente e que me leva a pensar que o mundo está perdido e sem conserto. Porque há guerras sem fim, como sempre houve através do tempo, porque há fome e pobrezas humilhantes, porque há gente que explora gente, porque há falta de amor em tantas vidas, porque há abismos sem fundo entre ricos e pobres, porque há homens e mulheres sem tempo para serem humanos, solidários e tolerantes, porque há pessoas loucas ou a caminho da loucura com o muito que têm e com o mais que ainda querem ter. 
O nosso MENINO JESUS concordou comigo, decerto numa estratégia pedagógica, para logo acrescentar, com uma convicção envolvente e desafiante, que todos podemos alterar este estado de coisas, começando a ser melhores, escutando-O, nos ambientes em que vivemos e trabalhamos. Sorridente, ainda adiantou que o segredo está em seguirmos os milhões e milhões de pessoas que promovem a paz, os milhões e milhões de pessoas que se dão aos outros, partilhando o que têm, os milhões e milhões de pessoas que vivem a alegria e a fraternidade, os milhões e milhões de pessoas que tornam o mundo mais belo, os milhões e milhões de pessoas que lutam pela justiça e pela verdade, os milhões e milhões de pessoas que vivem a simplicidade e promovem a reconciliação, os milhões e milhões de pessoas que pregam e vivem o amor, os milhões e milhões de pessoas que experimentam, no dia-a-dia, a liberdade, os milhões e milhões de pessoas que acreditam e apostam numa sociedade cada vez mais cristã. E eu a pensar que era tudo tão mau, quando, afinal, há imensas coisas boas, gratificantes, respeitadoras e promotoras da dignidade humana. 
Que grande lição me deu o nosso MENINO JESUS, naquele dia em que desliguei a televisão para pensar e para O ouvir, tendo por testemunhas, exclusivamente, o silêncio dos amigos animais de nossa casa. Prometi-Lhe, então, que jamais voltaria a querer ver a aldeia global, em que moramos, tão negra, com nuvens carregadas a escurecerem os hotizontes, acreditando, antes, que o homem novo e novas comunidades só podem brotar de gente com esperança e com coragem para ultrapassar mentalidades anquilosadas, retrógradas e pessimistas, oferecendo a todos testemunhos sãos que vêm da Fonte da Alegria e do Amor que nos ofertou o Deus-Menino, há mais de dois mil anos, e que alguns de nós teimamos em ignorar. Sobretudo, quando O pomos de lado ou apenas a decorar uma qualquer árvore com enfeites natalícios, onde o MENINO é tão-só um deles. 
A caminho do Natal, que é, como muitos ainda sabem, a celebração do mistério do nascimento do nosso Salvador, as catedrais do consumo já estão enfeitadas e preparadas para o desafio de nos fazerem esquecer o essencial, que é a mensagem de ternura que o MENINO nos legou. 
O MENINO, afinal, quer que descubramos nos nossos corações e nos corações dos que nos rodeiam, primeiro que tudo, os fios que tecem as verdadeiras prendas, que estão mais no darmo-nos aos outros do que no darmos somente embrulhos multicoloridos, quantas vezes cheios de nada. E também, que no meio de tanto sofrimento, de ódios, de violências e de escravaturas degradantes da vida humana, é possível descobrir um sentido novo, aberto a novos horizontes e que projecte um futuro melhor, verdadeiramente apoiado na lição sempre renovadora do NATAL DE JESUS CRISTO. 

Fernando Martins